Os percevejos são insetos parasitas que se alimentam exclusivamente de sangue quente.
O percevejo mais danoso para a saúde humana é o Cimex lectularius, também conhecido por percevejo de cama. Estima-se que os insetos, de uma maneira geral, apareceram há cerca de 480 milhões de anos atrás. Seu aparecimento se confunde com o surgimento das plantas terrestres. Como é facilmente perceptível, os insetos conseguem se adaptar bem a vários tipos de ambientes. Não por acaso, estima-se que há milhões de espécies de insetos andando ou voando por aí.
A grande adaptabilidade dos insetos provavelmente favoreceu os percevejos no mundo urbano. Prova disso é a existência de cerca de 100 espécies de Cimicidae, relacionados ao gênero Cimex. Todavia, ao que parece, apenas três espécies possuem importância quando se pensa em saúde pública. Entre essas três está o Cimex lectularius. Como nota filológica, vale informar que o termo latino “lectularius” advém de “lectus” que se refere a leito ou cama.
O percevejo de cama prefere lugares quentes ou preparados para o descanso. Assim, as camas oferecem um habitat ideal para esses pequenos parasitas, ainda mais com a percepção de que à noite comumente haverá alguma fonte de sangue, dormindo desprotegidamente. Apesar desses percevejos atacarem mais à noite, eles não são exclusivamente de hábitos noturnos. Durante o dia, eles costumam se esconder em buracos ou frestas para se proteger.
Fisicamente, os percevejos podem ser confundidos com pequenas baratas, mas não possuem asas. A coloração predominante nesses insetos é a marrom-rubra. A forma do seu corpo é oval e achatada. Percevejos adultos podem chegar a 6 milímetros em média. Interessante perceber que os percevejos de cama emitem um desagradável odor quando são esmagados, o que faz muitas pessoas os confundirem com baratas.
No Brasil, as duas espécies de percevejo que mais preocupam são a já citada Cimex lectularius e o percevejo da espécie Euschistus heros, também conhecido como o percevejo marrom da soja. Interessante notar que essas duas espécies são alvo das empresas de dedetização por duas razões distintas: o percevejo de cama traz danos diretos à saúde humana; já o percevejo marrom da soja, ou percevejo da soja, traz sérios danos à agricultura e consequentemente à economia brasileira.
Começando pelo percevejo da soja, essa praga ataca as plantações de soja. Essa oleaginosa possui uma imensa força no comércio mundial, tanto com relação à produção, quanto com relação ao consumo. O Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja, só perdendo para os Estados Unidos. Segundo dados da Embrapa, entre 2015 e 2016 o Brasil exportou cerca de U$ 28,00 bilhões de produtos ligados diretamente à soja, como grãos, farelos e óleos. Assim, percebe-se a importância estratégica da soja na economia brasileira. 1
O percevejo marrom da soja mede cerca de 11 milímetros, possuindo predominantemente uma cor marrom escura. Uma característica interessante é de que ele possui uma pinta branca no final do escutelo. Essa praga pode viver por quase 4 meses e se adaptou bem no norte do Paraná e na região Centro-Oeste do Brasil. Com relação ao controle dessa praga, recomenda-se antes de tudo um forte monitoramento na sojicultora. A empresa Bayer, por exemplo, recomenda o uso de inseticidas no início da infestação, controlando o aumento demasiado da população desse parasita e, por consequência, protegendo as plantações de soja quando elas estiverem mais vulneráveis.
O percevejo de cama convive com o ser humano há muito tempo. Alguns fósseis datam de cerca de 3500 anos atrás. Provavelmente, esse percevejo fez parte de alguns rituais humanos do passado. Sabe-se, por exemplo, que os gregos e os romanos queimavam esses insetos para fazer com que as sanguessugas soltassem a sua vítima; também, percevejos e outros insetos eram usados em poções para curar doenças corriqueiras e, por fim, sabe-se que os egípcios faziam algum tipo de bebida à base de percevejos para curar a mordida de cobras.
A história recente dessa praga urbana é interessante. Nos anos 40 do século XX, o alto controle do percevejo de cama e o sucesso das técnicas de dedetização fizeram pensar que essa praga logo seria erradicada. Todavia, nos anos 80 do século XX, esse parasita voltou com força total, tornando-se um grande problema em praticamente todos os grandes centros urbanos.
Mas o que fez essa praga voltar com tanta força?
Segundo o “BOLETIM DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE” de Belo Horizonte,2 publicado em 2016, há alguns fatores que favoreceram o reaparecimento do percevejo de cama. Desses, citaremos sete fatores:
1) aumento do turismo internacional, favorecendo o transporte passivo desses insetos. Sabe-se que turistas podem, sem saber, carregar os percevejos de cama no meio de suas bagagens ou mesmo no próprio corpo sem saber;
2) o tamanho diminuto dos cimicídeos é uma vantagem pois essa característica física permite que eles se abriguem em muitos lugares;
3) aumento do comércio de móveis usados, que podem estar infestados
por percevejos;
4) certo desconhecimento não só por parte das empresas de dedetização, mas também da comunidade científica com relação à biologia e ecologia desses insetos;
5) declínio no nível de conhecimento e conscientização popular, trazendo consequentemente uma despreocupação durante os anos de baixa infestação, principalmente em boa parte da segunda metade do século XX;
6) mudanças nas práticas de controle químico devido às regulações de uso e marketing dos inseticidas; ou seja, a propaganda com relação às práticas de dedetização influenciou no ressurgimento do percevejo de cama. Ou seja, o uso da propaganda pode influenciar positivamente ou negativamente no trabalho de controle de pragas. No caso dos percevejos, a propaganda norte americana desenvolvida no período de declínio dessa praga urbana, promoveu o ressurgimento dos percevejos.
E, finalmente,
7) o desenvolvimento da resistência desses cimicídeos aos inseticidas.
Também, um fator importante de proliferação do percevejo de cama está relacionado ao fato dele ser capaz de aguentar cerca de um ano sem se alimentar. Essa capacidade de jejum certamente ajuda em longas viagens e na proliferação bem sucedida.
Esses sete fatores apontados acima mostram como questões culturais, comerciais, consuetudinárias, científicas, turísticas ou mesmo de marketing podem interferir substantivamente no destino de alguma praga urbana. Por isso, o trabalho de dedetização não pode ser mais encarado como simplesmente sendo a localização e o extermínio de determinado ente indesejado ou de alguma infestação.
Numa matéria da CBN intitulada “Percevejos que se escondem em camas já são encontrados no Brasil”3, publicada em 2015, é afirmado que o turismo brasileiro, principalmente ligado ao setor de hotéis, tem sofrido prejuízos com a dedetização dessas pragas, pois esse tipo de controle costuma ser muito caro, comumente custa o dobro da dedetização de baratas, por exemplo.
O leitor notou que o percevejo de cama também pode causar considerável dano econômico, assim como o percevejo da soja é capaz de fazê-lo. Todavia, o que mais incomoda naquele é seu potencial dano à saúde humana. As picadas do percevejo de cama produzem as cimicoses, as quais causam muita coceira; essas cimicoses, ou bolhas, possuem coloração avermelhada e costumam apresentar certa protuberância, podendo aparecer em qualquer superfície da pele.
Além dessas pequenas erupções na pele que causam intensa coceira, a picada desse percevejo pode ocasionar danos psicológicos por conta de noites mal dormidas, chegando a quadros de insônia. Também, o parasitismo desse inseto pode ocasionar quadros alérgicos e anemia.
Considerada uma praga urbana, o percevejo de cama pode ser combatido com algumas técnicas de dedetização. Uma delas é a vigilância com relação ao aparecimento dessa praga para evitar a infestação. Identificados os locais onde se escondem, você poderá utilizar um aspirador de pó nos focos, eliminando-os dentro do filtro ou saco coletor. Dependendo da população de percevejos, é recomendável utilizar essa técnica algumas vezes por semana. Utilizando com constância, estratégia e sabedoria o aspirador de pó, muito provavelmente se conseguirá êxito no afastamento desse incômodo parasita. Todavia, essa técnica pode se mostrar um tanto cansativa e se tornar um fardo.
Atualmente, as técnicas de dedetização profissionais contra o percevejo variam desde o uso de inseticidas até o uso de lazer. Recomenda-se que o uso de inseticidas seja feito por uma empresa especializada, pois o uso inadequado de produtos químicos pode piorar a infestação. Com relação ao uso dos inseticidas, as principais técnicas estão relacionadas ao borrifamento nos locais suspeitos, às vezes com a vedação do cômodo infestado.
Dedetizadoras mais modernas também utilizam uma técnica à lazer.