Os carrapatos não são insetos.
Eles são pequenos aracnídeos parasitas hematófagos, ou seja, se alimentam de sangue. Cientificamente eles são conhecidos como seres pertencentes majoritariamente ou à família Ixodidae, ou à família Argasidae e se encontram espalhados por praticamente toda a superfície terrestre. Todavia, os carrapatos preferem climas quentes e úmidos – semelhante ao clima da região amazônica brasileira – pois necessitam de certa umidade para realizar com mais sucesso a metamorfose. Assim, no caso desses aracnídeos, temperaturas muito baixas dificultam o processo da metamorfose, principalmente na passagem do ovo para o estágio larval.
Na escala geológica, os carrapatos surgiram no período Cretáceo, entre 65 e 145 milhões de anos atrás. Há cerca de 900 espécies desses aracnídeos espalhados pelo mundo, levando-se em conta as famílias Ixodidae e Argasidae, principalmente. Eles variam muito na coloração e costumam medir não mais do que 1 centímetro, mesmo quando estufados com o sangue do hospedeiro. Semelhante aos ácaros, os carrapatos não possuem o corpo segmentado; o corpo do carrapato possui um formato ovoide e é relativamente achatado.
Interessante notar que no estágio larval os carrapatos possuem 6 pernas, vindo a adquirir mais duas no estágio ninfa. Desse modo, eles possuem 8 pernas. Outra característica interessante dos carrapatos é a capacidade de parecerem invisíveis para os hospedeiros. O tamanho diminuto ajuda a passarem desapercebidos, mesmo quando começam a sugar o sangue da vítima.
Por conta da capacidade de algumas espécies conseguirem se adaptar a determinado hospedeiro, alguns carrapatos conseguem se camuflar sobre a pele da vítima, imitando a estrutura da tez. Um exemplo disso são os carrapatos Aponomma komodoense, os quais costumam parasitar exclusivamente o Dragão de Komodo, conseguindo parecer que fazem parte da pele desse lagarto gigante.
Reforçando o parasitismo sútil dos carrapatos, eles podem ficar presos à pele do hospedeiro por semanas, sem que a vítima perceba a presença desses aracnídeos. Isso acontece porque o carrapato possui uma saliva que atua triplamente: como agente anticoagulante do sangue da vítima, na quebra do sistema de defesa da mesma e, por fim, a saliva do carrapato possui substâncias que promovem a vasodilatação, facilitando bastante a ingestão sanguínea.
Basicamente, o perigo dos carrapatos para a saúde pública se dá pela associação de hábitos hematófilos mais ação salivar. Essa combinação faz com que esses aracnídeos sejam um dos principais grupos de animais transmissores de doenças infecciosas para mamíferos. Eles podem transmitir males ligados à vírus, bactérias, protozoários e vermes parasitários. Importante ressaltar que aproximadamente 10% das espécies de carrapatos são capazes de parasitar o homem.
No Brasil, o carrapato da espécie Amblyomma cajennense (Ac) é o que causa maior preocupação com relação à saúde pública, sendo, portanto, um importante alvo do trabalho de dedetização. Muito importante alertar que os diferentes estágios dessa espécie costumam ser confundidos com carrapatos de espécies diferentes. Mesmo pessoas acostumadas a lidar com o Ac, costumam identificar essa espécie apenas com o “carrapato-estrela”… o que é um erro.
O Ac possui três estágios parasitários, vulgarmente conhecidos pelos nomes:
- micuim, estágio larval;
- vermelhinho, estágio de ninfa;
- vários nomes: carrapato-estrela, carrapato do cavalo, rodoleiro, picaço, carrapatinho; todos se referem ao carrapato adulto do Ac.
No mundo, a população de Ac vai do sul dos Estados Unidos até a Argentina. No Brasil, essa espécie costuma se concentrar nas regiões sudeste e Centro-Oeste. Os antígenos presentes na saliva desse carrapato podem provocar intensa coceira, a qual pode persistir por vários dias. O ato de coçar costuma ocasionar feridas que facilitam infecções nos seres humanos.
O Ac parasita principalmente equídeos – daí o nome “carrapato do cavalo” -, mas pode atacar outros mamíferos, inclusive o homem, e aves. Nos equinos, há casos de um único cavalo, por exemplo, apresentar cerca de 50.000 larvas e 2.000 carrapatos adultos no corpo. Ele pode transmitir a febre maculosa a qual pode levar à morte o hospedeiro. Para que isso aconteça, o Ac deve ficar cerca de 5 horas fixado no hospedeiro. As principais vítimas desse parasita são homens com idade entre 20 e 50 anos, moradores de áreas rurais.
Os primeiros sintomas da febre maculosa costumam aparecer de dois dias a duas semanas após a picada do Ac. Esses sintomas se assemelham muito a uma infeção comum: dores no corpo, dor de cabeça, febre alta, falta de vontade de comer, falta de ânimo, fraqueza; num segundo momento, aparecem pequenas manchas avermelhadas que são chamadas de máculas – daí o nome da doença.
Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2016 houve 128 casos de febre maculosa no Brasil, sendo que apenas um caso no DF. Também, no mesmo período, houve 50 óbitos no Brasil e nenhum óbito em toda a região Centro-Oeste. Aliás, desde o ano de 2000, houve apenas um caso de morte por febre maculosa na região Centro-Oeste.
Com relação às ações preventivas, é importante, antes de tudo, saber se no local onde alguém se encontra há a boa probabilidade de existirem carrapatos Amblyomma cajennense. Como afirmado, se você se encontrar em área rural há boas chances de contato com esse parasita. Caso isso aconteça, algumas recomendações são pertinentes:
- é importante examinar o próprio corpo a cada 3 ou 4 horas, tentando localizar o Ac;
- Também, é recomendável o uso de roupas brancas ou mais claras, para facilitar a visualização desses aracnídeos;
- Caso encontre carrapatinhos grudados na sua pele, tenha cuidado ao retirá-los; não é recomendável a retirada de forma abrupta, pois isso pode ocasionar processos infecciosos.
O trabalho de dedetização com relação aos carrapatos está relacionado à espécie, ao ambiente em que se encontra essa praga urbana e ao hospedeiro.
É importante o uso de carrapaticida no solo do local infestado, imunização dos animais infectados, uso de inseticidas e, como medida prosaica mas efetiva, o uso da velha e boa combinação de água e sabão. O bom dedetizador sabe que há diferentes grupos químicos usados para conter uma possível infestação. A identificação do produto químico mais efetivo depende de um bom conhecimento técnico e de certa experiência.